terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Infinito – Parte II


"Havia algo de informe
que existia antes do céu e da terra .. .
Como desconheço o seu nome, chamo-o de Tao." Lao Tsé

Na primeira parte do texto tentei colocar da forma mais clara que pude a importância do conceito de Infinito dentro dos assuntos ligados ao Universo e a sua origem, e que o Nada e o Infinito são pólos de uma linha que se tocam e se confundem, este é um assunto bem sutil, não é o tipo de coisa que alguem lê e entende no mesmo momento, caso se interesse é necessário reflexão em cima do assunto a fim de melhorar a compreensão.

Nessa segunda parte do texto irei focar mais em alguns ensinamentos antigos que nos mostram que essa ideia é muito anterior à teoria do Big-Bang, o ser humano naturalmente desde tempos imemoráveis tem o impulso de conhecer e refletir a respeito da origem do Universo e da Existência, e gradualmente estamos cada vez mais nos conhecendo e assim conhecendo o Universo (conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o Universo).

De primeira vou escrever sobre o antigo pensamento oriental a respeito desse assunto, lembrando que as filosofias orientais recentemente têm recebido uma atenção muito mais intensa pela comunidade cientifica devido à correspondência de seus antigos ensinamentos com recentes descobertas da física moderna, por exemplo, o conceito que estou abordando aqui, o Nada (Tao na filosofia taoísta) é conhecido pela Física Quântica pelo nome de ‘’Vazio Quântico’’.

Uma característica fundamental da filosofia oriental é a busca pela percepção da UNIDADE do TODO, ou seja, de forma geral, as filosofias orientais buscam transcender as limitações das percepções sensoriais do corpo carnal e perceber que existe um fluxo de energia que une tudo que existe e para assim se libertar da ilusão de ser individual e isolado, atingindo a Realidade Última, sobre isso também falou Jesus quando disse ‘’conhecereis a Verdade e ela vos libertará’’.
  
Todas as realidades e verdades(que são muitas) são incompletas e se encontram no domínio da ilusão da multiplicidade, estão dentro do movimento que é uma característica fundamental no Universo manifestado, desde as partículas mais essenciais da matéria até o fluir das fases da vida, no universo como conhecemos tudo vibra e tudo tem movimento, é mutável e se transforma a todo o momento, portanto, se o universo é essa realidade mutável, por outro lado, a força ''original'' causadora do movimento é Eterna, Imutável e Infinita, ideia que na filosofia taoísta é denominada Tao.

‘’O Tao que pode ser expresso não é o Tao Absoluto.
O nome que pode ser revelado não é o nome absoluto.
Sem nome é o princípio do universo.
Com nome, é a Mãe de todas as coisas.
O Ser provém da Fonte Incognoscível.
O Existir nos leva pelos canais cognoscíveis.
Ser e Existir são a Realidade total.
A diferença entre Ser e Existir
É apenas de nomes.
Misterioso é o fundo da sua unidade.
Eis em que consiste a sabedoria suprema.’’

Explicação de Humberto Rohden:
‘’Tao é a Realidade Insondável, o Brahman Absoluto, a Divindade Transcendente que, como tal, não é acessível ao nosso conhecimento finito. O nosso conhecer finito finitiza o Ser Infinito. O Tao é em si mesmo anônimo, inominável. Quando o nominamos, reduzimos a um plano finito o Infinito, relativizamos o Absoluto, parcializamos o todo, colorimos o incolor, personalizamos o impessoal.
A Plenitude do Todo nos afeta como sendo a Vacuidade do Nada. Quem olha diretamente para a pleni-luz solar não enxerga nada - por excesso de luz. A Essência do Ser é para o nosso conhecer como se fosse o Nada.
Toda a sabedoria consiste em evacuarmos essa Vacuidade, em nulificarmos essa Nulidade, não para enxergarmos o Todo da Essência, mas para sermos invadidos pelo Todo.
’’


O  Tei Gi é um ‘’desenho’’ que representa a Criação, a posição das duas cores em  um aparente movimento representam as polaridades da natureza em atividade, dentro de um circulo que simboliza o Tao, de onde ‘’brota’’ a Criação, e que é incolor, vazio e incognoscível, o Nada que contem Tudo.
 
O Tao de certo não pode ser definido por nenhum tipo de linguagem, então é um erro dizer que o desenho do Tei Gi é uma pura representação dele, pois na verdade o Te Gi representa o processo que se desdobra do Tao, ou seja, a Criação. O branco e o preto e suas formas dentro do circulo lembram polaridade e ritmo(movimento), a Lei da Polaridade e a Lei do Ritmo são duas das 7 leis herméticas, leis que ‘’estruturam’’ o Universo segundo o Hermetismo, e sobre as quais pretendo escrever no futuro.
 
O simbolo Tei Gi mostra mostra a formação uma onda, que é vibração (também uma das 7 leis herméticas) derivando do círculo que representa o Tao.

Tudo veio do Todo Absoluto, onde já preexiste todo o potencial da existência, a vibração gera a dupla polaridade do Universo, essa polaridade pode ser percebida tanto no homem quanto na natureza, Positivo/Negativo, Atividade/passividade, Calor/Frio, Sol/Lua, Masculino/Feminino, Matéria/Espírito, Luz/Trevas e etc...



O Tao é a própria Eternidade, o Insondável, é Infinito e por isso é Unidade já que o Infinito não tem borda nem limite, da luz incolor nascem todos os tons infinitos de cores quando passam pelo prisma.

No meu entendimento pelo que venho estudando, vivemos dentro da ilusão de multiplicidade, o mundo material, Malkuth como é conhecido na Cabala e de forma genérica, Mundo de Maya como é conhecido na filosofia hindu. Vivemos nessa aparente separação do Infinito, limitados e em busca de refinar nossa percepção(a imperfeição esta em nós), alinhar nossa Vontade com a do Ser Superior e se desenvolver espiritualmente para alcançar a libertação do véu ilusório que nos ''separa'' do Todo.
O caminho em busca de conhecer os porquês da natureza é o mesmo caminho que nos leva a conhecer nossa própria origem, e se um dia chegarmos(e vamos chegar) a compreender o mistério da Existência, será pela dissolução das ilusões que nos encontramos envolvidos no presente momento, e assim se dará a unificação plena dos seres com o Ser Superior, como Consciência pura e contínua.


                                              "Se as portas da percepção estivessem limpas,
                       tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."  William Blake


A pintura acima chamada ''A Escada de Jacó'',  mostra uma escada que representa os degraus que ligam o Plano Inferior aos Planos Superiores, por onde os seres imperfeitos(nós) ascendem de acordo com o grau do despertar espiritual e os seres superiores descendem para auxiliar e mostrar o Caminho Verdadeiro pela Luz.

 A explicação de porque existe essa separação do homem com o Todo é um assunto fundamental e é abordado em todas as religiões e filosofias antigas, geralmente retratado como a ''queda do homem para a matéria'' e sobre o qual pretendo escrever quando estiver mais focado nos assuntos relacionados a Mitos da Criação.

Finalizando...


Disse Lao-Tse: " Nas profundezas do Insondável jaz o Ser. Antes que o céu e a terra existissem, Já era o Ser. Imóvel, sem forma. O Vácuo, o Nada, berço de todos os Possíveis. Para além de palavra e pensamento está o Tao, origem sem nome nem forma, a Grandeza, a Fonte eternamente borbulhante. O ciclo do Ser e do Existir.''