domingo, 14 de agosto de 2011

O desapego - Parte II


“Queima a ponte que acabaste de atravessar.
Para quem não pode recuar só resta avançar.
Até o rato quando encurralado ataca o gato
.” - Masaharu Taniguchi 


Bom, finalmente tenho um tempo mais tranquilo pra escrever esse texto, dando continuidade ao outro texto em que falei sobre a armadilha ilusória que é se apegar ao TER, vou aproveitar aqui para dizer que lá dei a entender que o apego aos bens prejudica somente pessoas como a que ilustrei no exemplo, o que é um ERRO, eu mesmo me pego em alguns momentos gastando boa parte do meu tempo pensando e me esforçando em TER mais, ter coisas que em breve viram lixo...

Uma coisa interessante que deve ser observada em nossas vidas é o fluxo de mudanças e os ciclos que constantemente se iniciam ou se encerram desde o momento do nascimento até a morte, são ciclos necessários para nossa evolução e aprendizado, e saber quando uma fase termina para o inicio de outra é mais que essencial para não entrar em algum tipo de sofrimento.



Chico Xavier tinha na cabeceira de sua cama as palavras ''Isso também passa'' para sempre lembrá-lo que todas as fases da vida são passageiras, quer sejam tristes ou alegres.


- Sobre as Fases da Vida, explicação pela análise de uma carta oracular:



No tarô mitológico temos a carta da Roda da Fortuna que retrata 3 mulheres, uma jovem, uma madura e uma mais idosa, são as moiras da mitologia grega, deusas do Destino, que eram temidas até pelo próprio Zeus por não serem filhas de qualquer deus, “mas sim a progênie das profundezas da noite, o mais antigo poder do Universo”, assim teciam o fio da vida humana e seus trabalhos não podiam ser desfeito por deus algum, mostrando que o destino é implacável.

O centro da figura mostra uma roda com quatro figuras humanas em posições diferentes, então as moiras que são as detentoras dessa roda podem ser entendidas como a misteriosa lei que age sobre o individuo, o “empurrando” para repentinas mudanças que acontecem por razões desconhecidas por ele próprio. A roda esta sempre girando, enquanto uma das figuras esta subindo, a outra esta descendo, enquanto uma esta no topo, a outra esta embaixo sendo esmagada.

Essa carta retrata de forma mitológica as mudanças da vida, mas não diz respeito a mudanças de sorte insignificativas, as moiras representam o misterioso poder que planeja e organiza de forma inteligente as mudanças da vida, mesmo que de inicio não possamos entender a razão delas.

É uma imagem muito interessante de ser estudada, porque, como a maioria das doutrinas ensina, nos já nascemos com o inconsciente objetivo de consertar determinados aspectos de nós mesmos, a roda então é o cenário da vida em movimento, as moiras fazem parte da nossa personalidade inconsciente, já o eixo que esta sempre no centro da roda é o “Eu oculto” que escolhe se voltar para determinadas situações e caminhos necessários para nossa caminhada, ou seja, nós inconscientemente nos dirigimos ao Destino que é a nossa Verdadeira Vontade, lutar contra isso gera conflitos, é lutar contra seu próprio aperfeiçoamento necessário para a evolução.



“Quem olha para fora, sonha.Quem olha para dentro, desperta.” Carl G. Jung


Cada indivíduo tem sua respectiva Verdadeira Vontade interior, que harmonicamente deve conduzir sua vida, é o potencial da existência, no oriente é o mesmo “Caminho do Dharma” que leva a extinção do sofrimento, é a mesma “Grande Obra” dos alquimistas, e é também o Makutb dos antigos árabes, ou o destino que já esta escrito ao nascermos, mesmo que nós tenhamos o livre arbítrio.

Um dos maiores psicólogos da atualidade definiu essa idéia como a “individuação”, que é o processo pelo qual o ser se desenvolve, partindo de um estado de identificação infantil  para outro com mais amplitude de consciência, entrando em harmonia com as orientações vindas do Self (“Eu oculto”) , é um processo de desenvolvimento da psique, e segundo ele, resistir a esse processo pode gerar doenças psíquicas e desequilíbrios.

De inicio a ideia de destino e livre arbítrio juntas pode demonstrar alguma contradição, porém a força misteriosa que nos empurra para as mudanças da vida não está exatamente fora, mas sim em nós mesmos, é o “Eu oculto” com as escolhas do interior, e mesmo que tentemos fugir delas, mais cedo ou mais tarde temos que encarar os caminhos e dificuldades certas para evoluir.


"Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão." Fernando Pessoa

Por isso a importância do desapego para com as fases que passam, e junto com ela pessoas, coisas e hábitos, os momentos da vida se encerram e tudo que podemos fazer é fechar as portas e seguir adiante, seja na superação de algum problema, seja no término de uma relação ou a decisão de morar longe das pessoas queridas, devemos deixar passar, por mais doloroso que seja, porque o sofrimento de nadar contra o fluxo da vida será bem maior, esquecer do passado é necessário, e tentar permanecer no que já passou é perder feio o trem negads!

Devemos saber encerrar os ciclos e não ter medo do novo, parar de perder por medo de perder, entender que determinada coisa, hábito e até mesmo alguma pessoa pode já não se encaixar mais em nossas vidas, como escreveu o grande poeta ocultista Fernando Pessoa, “nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade”, temos que saber cuidar do nosso próprio caminho, porque vivemos juntos, mas morremos sozinhos.



“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”


E como diria Raulzito ’’eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’’, mostrando a busca pelo eterno SE renovar, procurar questionar e abandonar opiniões e crenças que já não mais atendem a nossa compreensão e dúvidas, não entrar na ilusão de achar que o que sabemos é sempre o certo e ter coragem de ir em busca do novo, do algo a mais que nos falta, sem medo de perder a fé e fortalecido pelo objetivo de alcançar gradualmente um conhecimento mais perfeito e mais seguro, por isso, onde há dúvida, há liberdade.

Eu entendo que é necessário desapego em relação a tudo que nos rodeia, até mesmo em relação a pessoas que amamos, porque elas um dia também irão seguir seus respectivos caminhos, até a “ultima” travessia que é a morte. O apego se encontra como sendo fonte de incontáveis tipos de sofrimentos e um dos elementos que mais aprisionam o ser neste mundo, exercitar o desapego é um dos caminhos necessários para a verdadeira libertação.


Por isso...

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é...” Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário