quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A linguagem simbólica – parte I


“O misticismo é a base de toda ciência, e a pessoa que já não é capaz de ficar extasiada está morta sem saber disso”. - Albert Einstein


Finalmente um tempo pra atualizar isso aqui. =D

No texto anterior escrevi um pouco sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos, assuntos que eu entendo como sendo de muita importância para iniciar a entender melhor como se formam os símbolos arquetípicos, então... somente recomendo a leitura deste outro primeiro.

Longe de querer desmerecer a importância da semiótica(estudo dos signos), nesse texto não pretendo me focar em estudos acadêmicos e científicos, como por exemplo, a importância deles para o processo de comunicação do homem ou a importância dada a eles na psicanálise, isso porque não me interessa escrever um compêndio de conceitos, já que a simbologia é um tema tratado em diversas áreas do saber humano, desde a semiótica, passando pela psicologia e a etnologia até os conhecimentos das Ciências Ocultas, sendo também expressada em praticamente todas as manifestações das artes.

A linguagem humana naturalmente é formada por meros sinais e signos, que muita gente pode confundir com símbolos, faço aqui essa distinção porque, marcas comerciais, por exemplo, são signos gráficos ou sonoros que visam indicar algum produto, mas nem por isso são considerados símbolos no sentido que quero trazer aqui, por não terem um sentido profundo intrínseco, assim também é com sinais e signos de diversas outras áreas, como na Química, onde os signos dos elementos têm um significado claro e raso. Um símbolo tem significação muito além do que simplesmente aparenta,  significação que na maioria das vezes continua oculta numa superficial primeira análise ou em uma mera interpretação semiótica, ou seja, se for analisado de modo sistemático, o símbolo fica limitado e definido, perde sua função principal e “morre”.

Um mero signo gráfico, com mensagem clara e precisa.

No livro A Linguagem dos Deuses, Antonio Farjani assinala que no âmbito da condição humana temos acesso a dois tipos de linguagem: a digital, que é comumente usada no dia-a-dia em diversos tipos de comunicação e a analógica(na qual a linguagem simbólica esta inserida), que é uma linguagem bem menos usada e mais sutil, e por isso necessita de uma percepção mais aguçada por parte do receptor da mensagem.

A linguagem digital é a linguagem empregada nos sinais(como no exemplo que citei lá pra cima), nos signos e nas palavras em seu sentido concreto e literal, com função informativa clara, focada, de pronto entendimento, e por isso definida e limitada.

A linguagem analógica por outro lado, se expressa pela composição de muitos elementos juntos, por exemplo, pela linguagem corporal, com os gestos, entonação de voz, expressão facial e outros infinitos detalhes que passam despercebidos, ou seja, é um conjunto de fatores que revelam um entendimento muito mais profundo e detalhado acerca da mensagem que recebemos de alguém, porém esse entendimento depende de uma percepção mais aguçada para ser possível perceber os gestos sutis e também de capacidade de interpretação para saber identificar o significado desses mesmos gestos...sem a percepção aguçada eles ficam ocultos, e sem a capacidade de interpretação dos significados deles os gestos não revelam nada.

Em alguns momentos as duas linguagens podem se contradizer, alguém pode falar “eu te amo’’ para outra pessoa, mas com desprezo no olhar e uma expressão facial mostrando indiferença, podemos perceber que a linguagem analógica revela uma verdade mais profunda e certa.

Da mesma forma que a linguagem analógica se expressa pela linguagem corporal, ela também se expressa pela linguagem simbólica principalmente pelas imagens e símbolos, esse é o foco que importa aqui.

''Para os magos, o Sol no Universo, o coração para o homem, o leão entre os animais, o ouro entre os metais e o diamante entre as pedras, expressam uma energia semelhante, cada um em seu Reino.''  Cada detalhe da imagem acima tem uma simbologia referente à casa de Leão.

Cada uma dos dois tipos de linguagem tem sua vantagem e objetivo, enquanto a digital é clara, certeira, de significação rasa e superficial, a analógica apresenta uma dificuldade maior de entendimento, é obscura justamente por ter uma profundidade superior de significação e por poder abrigar diversos significados ao mesmo tempo, esses significados se revelam de acordo com o grau de entendimento que o receptor esteja preparado para receber.
  
Assim como eu escrevi anteriormente em relação aos gestos da linguagem corporal, a profundidade da mensagem captada por nós depende da nossa capacidade de percepção e interpretação, o mesmo vale para os símbolos, o intérprete necessita ter condições de entendê-los, esse foi um dos motivos da linguagem simbólica ter sido tão utilizada pelas Escolas Iniciáticas da antiguidade (principalmente no tempo da Inquisição), os símbolos serviam como uma forma oculta de transmissão dos conhecimentos que sofriam perseguição da Igreja, a linguagem simbólica era usada para manter seus ensinamentos velados e longe do entendimento dos profanos, uma imagem aparentemente inocente e sem sentido continha uma grande quantidade de ensinamentos que passavam despercebidos pelos olhos de um leigo.


Pode-se afirmar então que, de certa forma, a linguagem simbólica é mais avançada que a linguagem escrita, pois pode revelar um número muito superior de informações, dependendo da capacidade intelectual e intuitiva do receptor.

A linguagem simbólica opera fundamentalmente por imagens, já que com as palavras existe a rigidez e foco objetivo da linguagem digital, embora os mitos sejam narrativas simbólicas que se utilizam de palavras,  tratá-los de forma literal não seria o modo mais correto de interpretá-los, pois por uma análise superficial os mitos seriam apenas histórias fantasiosas, porém os mitos são símbolos que se utilizam de palavras para expressar algo com muito mais profundidade, sobre isso vou escrever quando estiver mais focado na mitologia, por motivos ‘’didáticos’’ eu preferi dividir em dois textos esses assuntos que deveriam ser um só, ‘’linguagem simbólica’’ e ‘’mitos’’.

A linguagem velada da Alquimia é um exemplo que posso trazer aqui, os preciosos ensinamentos alquímicos que conduzem o iniciado pelo caminho da Grande Obra são tão perfeitamente velados em forma de linguagem simbólica que nenhum profano  jamais chegou a decifrá-la, dizem os alquimistas que somente com o desenvolvimento espiritual que a linguagem vai se auto-revelando para o buscador, se tornando mais clara passo a passo ao longo do processo que conduzem à consecução da Obra Alquímica, então surge aqui outra informação importante, os símbolos não só servem para ocultação e transmissão de informações, mas também auxiliam o desenvolvimento espiritual/intelectual do ser.


Um pequeno exemplo do simbolismo alquímico: ''Aqui está o estudante no começo da Grande Obra alquímica (seus instrumentos ainda estão no chão). A caveira aponta para a morte de tudo o que é velho e precisa ser deixado para trás na transformação que irá acontecer. A fênix sobre a mesa representa o resultado desta transformação. A vela debaixo da mesa representa a luz divina que está sempre acesa nas pessoas, mesmo que elas não a percebam.
O estudante está lendo um livro; geralmente é sempre assim que começa a transformação (ele deseja conhecimento). Um anjo o visita com uma mensagem, um convite, este é o chamado espiritual e pode acontecer de diversas maneiras: uma visão, um acidente, etc. e o estudante sente que deve seguir a trilha espiritual.

As asas do anjo são feitas de penas de pavão, outro símbolo alquímico (Cauda Pavonis), quando a luz do estudante começa a brilhar.'' - Via DD


- Se a evolução espiritual consiste basicamente no autoconhecimento do ser e consequentemente também do Universo(relação Micro/Macro), como os símbolos podem auxiliar nisso?

Seria estranho eu não citar o Jung quando se trata desse assunto, já que os estudos dele foram os que mais contribuíram para o estudo dos símbolos pela psicologia, não por acaso ele também se dedicou muito ao estudo dos símbolos da Alquimia e do Tarô(mitologia).

No campo da psicologia, os símbolos são uma forma do inconsciente se expressar(por isso os sonhos geralmente são simbólicos), porém Jung propôs a existência de um Inconsciente Coletivo, essa ideia foi sustentada pela correspondência de suas análises oníricas de diversas pessoas sem vinculo algum entre si e de lugares diferentes, algumas sãs e outras mentalmente desequilibradas, bem como também as semelhanças dos símbolos e mitos religiosos de diferentes culturas, épocas e lugares (como foi explicado em outro post), com isso Jung presumiu a existência de imagens primordiais (estruturas psíquicas) que se manifestavam no Consciente de todas as pessoas de diferentes lugares do mundo, coletivamente, e que, portanto, formavam o Inconsciente Coletivo, ele denominou essas formas/imagens de Arquétipos, e do ponto de vista dos estudos de Jung, os Arquétipos podem ser entendidos como a estrutura invisível, essencial e formadora dos símbolos, que brotam do Inconsciente Coletivo e se manifestam objetivamente em forma de símbolos, com diferentes roupagens e características, dependendo da cultura e época, mas sempre mantendo a ‘’essência’’.

Mandala maia
Mandala indiana
Mandala tibetana
Mandala celta


"A forma do mundo em que o homem nasceu já está dentro dele como imagem virtual.” - Carl Jung

Jung constatou que o uso de mandalas em tratamentos gerava melhoras nos pacientes, ele sustentava que o com o uso delas era possível trabalhar a Psique pelo processo de autoconhecimento do paciente, pois estes símbolos expressavam conteúdos interiores.


 
Para Jung, a pessoa quando nascia trazia consigo a ‘’herança ancestral’’ de toda a história da humanidade codificada em símbolos, e que por isso é necessário ‘’ouvir’’ os símbolos, principalmente pela meditação, isso explica o atual afastamento do povo ocidental da compreensão dos símbolos, já que uma boa parte dessa população não é habituada a introspecção ou mentalização de uma prece ou mantra como via de autoconhecimento(vide gritaria exagerada de algumas igrejas), por isso recomenda a doutrina oriental vedantina:

“A meditação deve ser diária e praticada em um local tranqüilo onde seja possível manter a mente livre de todo o pensamento mundanos, e especialmente onde houver imagens ou quadros capazes de despertar sentimentos devocionais no coração do devoto. Os que podem fazê-lo devem dedicar um local de sua casa para este propósito, e nunca permitir que a “atmosfera” daquele local seja impregnada com vibrações de pensamentos impuros ou idéias mundanas. O local deve ser considerado como uma capela privada. O efeito da meditação assim torna-se sumamente elevado.”

 
Como esse texto ficou mais extenso do que eu esperava, vou dividi-lo em dois, logo logo posto a segunda parte que vai estar focada nos símbolos como elos da mente com realidades ''invisíveis''. Continuação...

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