domingo, 7 de agosto de 2011

O desapego - Parte I


"As coisas que você possui, acabam possuindo você." Tyle Durden


Em outro texto escrevi sobre uma distinção que consiste em diferenciar um Mundo Transcendente (Eterno, Infinito, a Realidade Ultima) do Mundo Imanente em que vivemos, que por outro lado é repleto de multiplicidades e mutável porque se modifica a todo instante.

Vivemos nessa realidade que se transforma a todo o momento, por isso é importante sempre exercitarmos o desapego em relação a tudo, desde bens materiais, passando por ‘velhas opiniões formadas sobre tudo’ e até mesmo a sentimentos considerados ‘’bons’’ mas que podem eventualmente nos ‘’amarrar’’ em uma ilusão e trazer sofrimento tanto para nós quanto para outras pessoas, devemos seguir com o fluxo natural das mudanças, se não estaremos sofrendo por nadar contra a correnteza.

A mudança é uma Lei, devemos observar que existe este fluxo, os movimentos dentro de ritmos que geram as transformações em todos os reinos e seres da natureza, e tais transformações são fundamentais, a natureza tem que se transformar para se renovar, e o mesmo deve acontecer com o ser humano, como uma pedra de diamante bruto devemos nos lapidar, nos desenvolver espiritualmente, pela transformação devemos consertar gradualmente nossas imperfeições se livrando assim de todas as ilusões.


Começando pelo apego aos bens materiais, primeiramente não quero ser hipócrita e dizer que não desejo ser rico, não pretendo renunciar aos bens mundanos tal como fez São Francisco de Assis, pois não sou santo (nem quero ser ainda). 


"Quanto mais tens, mais
poderás perder"
  Lao Tsé

O grande problema em relação à riqueza material não é a quantidade mas sim o apego e a vaidade que ela pode gerar, seja qual for o seu valor, e é com isso devemos ter cuidado. A sociedade capitalista hoje em dia anda dando ainda mais força para que as pessoas consumam mais que o necessário para o conforto, chegando a um EXTREMO exagero e ao supérfluo. Eu realmente não entendo qual a necessidade das pessoas sentarem suas bundas em vasos sanitários folheados a ouro, necessidade mesmo não há, mas o ego envenenado pela vaidade o cria (esse assunto não vem ao caso).


"Aquele que está satisfeito com o que tem é rico ".  Lao Tsé


Uma pessoa completamente imersa em uma realidade em que o sucesso é medido pelo quanto se tem materialmente, acaba vivendo um vazio existencial, tal vazio vem dominando a grande massa do mundo que ainda dorme ante ao verdadeiro objetivo de viver, que é conhecer e se desenvolver espiritualmente.





 
O apego a riqueza material acaba gerando um atraso no caminho espiritual, o ‘’vazio existencial’’ é exatamente o Eu interior sentindo a falta do desenvolvimento que necessita, mas sendo bloqueado pelas ilusões das necessidades do ego e da vaidade.
 
 Mas se tal ''vazio existencial'' assola algumas dessas pessoas, porque elas continuam apegadas como se nada ocorresse? 

Imaginemos que uma pessoa já seja habituada a viver em prol de ''ter'', toda sua vida construída em cima de uma imagem que ela montou não só para a visão dos outros mas também para satisfazer o ego inflado que foi embasado e fortalecido sobre os pilares do apego. 
Temos que reconhecer que para alguem assim, qualquer ideia que a leve a cogitar em se desprender de seus bens e imagem de sucesso seria um verdadeiro terror, seria como perder a própria identidade e se tornar no mínimo um ''zé ninguém''.

Como se um enorme buraco fosse coberto por um fino tapete, as pessoas montam armadilhas para si mesmas, tentando compensar o vazio do ''ser'' com o ''ter'' em excesso e escapar de olharem para SI, focando somente no crescimento e manutenção de suas posses. 

Muitas pessoas passam uma vida inteira assim e só perto da morte começam a refletir a respeito da vida praticamente desperdiçada, fulano então se sente ''manco'' quando percebe que aquele carro importado ou aquela maldita privada folheada a ouro não vai acompanha-lo depois da morte, ocorre o ''encontro'' adiado durante toda a vida, esse ''olhar no espelho'' pode ser cruel e levar a um grande turbilhão psíquico e emocional, gerando sofrimento. Porque a verdade nua e crua...dói mais que uma peixeirada. :)





É extremamente prejudicial uma pessoa morrer em uma situação de apego, além de uma vida inteira desperdiçada em interesses mundanos, o apego às coisas, vícios e até mesmo às 
pessoas que ficaram no plano material seguem o ser até depois da morte, funcionando como uma ancora que a impede de se ‘’sutilizar’’ e ascender para planos superiores.

 Isso quis dizer (e disse) Jesus com as palavras “é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”, ou seja, dizia respeito às pessoas de grandes posses que naquela época eram naturalmente avarentas (mas hoje em dia são palavras usadas com outra interpretação pelas Igrejas caça-níqueis).

É bom lembrar que tudo que é do mundo material, no mundo material fica. Nem mesmo nossos corpos nos ''pertence'', pois tudo é do Todo, como taoísmo o afirma: ao morrer devolvemos a natureza os 4 elementos, o ar como o ultimo suspiro, o fogo com o calor do corpo, a água como os líquidos da degradação da matéria e por ultimo a terra, quando o pó ao pó retorna.

Deixo aqui um trecho do filme Clube da Luta (recomendadíssimo), que apesar de usar uma linguagem brutal revela uma verdade meio inconveniente pra muita gente.

“... Você não é sua conta bancária
Nem as roupas que usa
Você não é o conteúdo de sua carteira
Você não é seu câncer de intestino
Você não é o carro que dirige
Você não é suas malditas calças
Você precisa desistir
Você precisa saber que vai morrer um dia
Antes disso você é um inútil
Será que serei completo?
Será que nunca ficarei contente?
Será que não vou me libertar de suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar de sua arte inteligente?
Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo?
Digo: você precisa desistir
Digo: evolua mesmo se você desmoronar por dentro
Esta é sua vida
Melhor do isso não pode ficar
Esta é sua vida
e ela acaba um minuto por vez
Você precisa desistir
Estou avisando que terá sua chance"

(Tyler Durden; Clube da Luta)



 Podem tirar tudo de nós, até nossa liberdade, mas o conhecimento não.



"A fama ou a vida?
O que mais se deseja ?
A vida ou a riqueza ?
O que vale mais ?
O que vale mais: Meu nome de família ou meu Ser?
O que é mais meu: Minhas posses externas ou meu intimo Ser?
O que me é mais importante: Meus lucros ou minhas perdas?
Os fortes apegos geram grandes sacrificios
O acumulo de bens é a fonte de grandes perdas.
Aquele que está contente, não se envergonha
Aquele que sabe parar, está livre do perigo e vive longamente."
Tao Te King.



Um comentário:

  1. Gostei da tua honestidade consigo mesmo, admitindo que ainda não está em condições de seguir o exemplo de São Francisco de Assis. =p A vaidade é uma das coisas que prendem as pessoas na Terra e esse apego, de fato, ancora o espírito nesse mundo inferior em que vivemos, esse inferno.
    Leonardo DaVinci (artista, cientista e mestre rosacruz) afirmava que "A simplicidade é a sofisticação máxima", dizia isso ensinando que grau de compreensão é inversamente proporcional ao grau de vaidade de um espírito e que maior será sua visão da perfeição (sofisticação espiritual) quando das coisas mundanas ele desviar sua energia.
    É saudável que tenhamos uma vida confortável enquanto estivermos na condição humana, nas o conforto deve vir de dentro pra fora, de forma a, inclusive, confortar outras pessoas com a Paz que trazemos no EU. E não inversamente, de fora pra dentro, como é propagado DIARIAMENTE na cultura predominante em que estamos inseridos.
    Vale lembra que a cultura predomina, mas todos somos livres! O pensamento é livre pra buscar o que quiser, o sentimento é livre pra absorver e guardar o que convém pra uma vida mais confortável e jogar a culpa só pra cima do 'sistema' não tira a nossa responsabilidade de fazer da nossa vida algo melhor, uma vida mais feliz e realizada com o que temos. Nesse sentido, ressalto as palavras de Lao Tsé publicadas no post.

    É bom ver como você pensa mano, esse blog tá sendo bom, inclusive, pra te conhecer melhor. Acho que vc está no caminho certo com essa iniciativa.

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